domingo, 30 de agosto de 2009

De novo, os piratas...


A crise generalizada que vive a Somália foi apontada pela organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) como “uma das dez piores calamidades humanitárias negligenciadas pelo mundo”. A instituição constatou o recrudescimento das condições mínimas de saúde no país a partir de 2006, e desde então dias melhores nunca foram vistos. Forçados a uma impotência econômica em função do desvio de ajuda humanitária orquestrada pelos Estados Unidos e ONGs estadunidenses e européias e atos de ganância, a pirataria é pecado de último recurso.

A intervenção estadunidense na Somália começou na década de 1960, assim que o país se tornou independente, sob o governo de Mohamed Siad Barre. Na época, com o mundo dividido entre Estados Unidos e União Soviética, Barre procurou ajuda dos soviéticos.

Na década de 1970, porém, os soviéticos abandonaram a Somália e decidiram se aliar à Etiópia em uma disputa por Ogaden, uma parte da região somali da Etiópia. Em pouco tempo, a Etiópia, aliada da União Soviética e de Cuba, atacou as forças de Barre e expulsou os somalis de Ogaden. Anos depois, com as tensões da Guerra Fria, os Estados Unidos decidiram procurar Barre para combater a influência soviética na África. Em 1981, os EUA passaram a enviar 100 milhões de dólares anuais em armas para Barre, mas nenhum centavo em ajuda humanitária ou desenvolvimento civil. Em um país sem medicamentos, alimentos ou infraestrutura, mas com armas de todos os tipos fornecidas por Washington, era evidente que o desenrolar dessa história seria sangrento ao levar o país a uma guerra civil. Com o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos abandonaram a Somália novamente. Graças às armas estadunidenses, Barre sobreviveu – mas não a nação somali

A Somália entrou na década de 1990 com uma economia tão inexistente quanto o sistema político do país. Em 12 de julho de 1993, as 15 facções somalis então existentes no período da guerra haviam chegado a um acordo de estabelecer um governo de união nacional. Apesar disso, um dos partidos envolvidos, de Mohammed Farrah Aidid, havia demonstrado incerteza sobre abandonar as armas. Sendo assim, os Estados Unidos orquestraram uma operação militar em Mogadíscio, a capital somali, a fim de assassiná-lo. A casa onde estava foi invadida e após 17 minutos de bombardeios todos os 73 homens que lá estavam foram mortos. Acontece que, dentro da casa, estavam assessores de Aidid que haviam concordado naquela mesma manhã em abandonar as armas. Entre os mortos, 4 eram jornalistas estrangeiros que estavam cobrindo a decisão que poderia ter dado fim à guerra. Graças ao ataque estadunidense, a guerra continuou, quando o governo das Cortes Islâmicas, apoiado pelo povo somali e responsável pelo fim da guerra, foi rotulado pela administração Bush como uma “organização terrorista aliada à Al-Qaida”.

Os interesses estadunidenses na região estão na origem do conflito que sangra o país africano. Entre eles, a localização geográfica estratégica do país, rota mundial do petróleo, e o controle do próprio combustível. “O Conselho Supremo das Cortes Islâmicas é apenas um pretexto”, afirma Jama Mohamed, da Organização Somaliana para o Desenvolvimento Comunitário. “O principal interessado na crise são os Estados Unidos”, disse ele. Empresas estadunidenses tinham concessão para a exploração do recurso natural no país, mas com as Cortes Islâmicas isso mudou, e empresas chinesas rivais passaram a ameaçar o domínio estadunidense. Com a deflagração do último conflito promovido pelos EUA, estes têm revelado sua constante política que, em última instância, busca fragmentar forças internas para enfraquecer qualquer tipo de reação.
http://www.estadoanarquista.org/blog/?m=20090423

Nesse cenário surgiram os piratas, num país devastado pela guerra, recortado por lideranças ilegítimas e sem a mínima infraestrutura. Formados em sua maioria por pescadores, os piratas somalis organizaram-se antes que os mesmos estrangeiros de antes, somente com novos rostos, chegassem para “reconstruir” o país. Eles representam o povo sofrido desse país que, de mão em mão, foi destruído desde o dia que nasceu

Nenhum comentário:

Postar um comentário